No processo de recrutamento e seleção, encontrar o candidato ideal vai muito além de analisar competências técnicas e experiências anteriores.
Em um cenário cada vez mais complexo e competitivo, os recrutadores enfrentam o desafio de contratar profissionais que não apenas entreguem resultados, mas que também se alinhem à cultura e aos objetivos da empresa. É aí que entram os valores.
Em muitos ambientes corporativos, os valores são elementos muitas vezes negligenciados. Porém, eles fazem toda a diferença para a assertividade de uma contratação.
Neste artigo, exploramos como os valores humanos, com base na teoria de Eduard Spranger, podem ser aplicados de maneira prática no recrutamento e seleção. Vamos mostrar por que essa abordagem é relevante para quem deseja reduzir o turnover, melhorar a integração de novos colaboradores e construir equipes mais engajadas e produtivas.
O desafio do recrutador moderno
Recrutadores e profissionais de RH lidam com um dilema constante: como contratar a pessoa certa para a vaga certa, sem depender apenas da intuição? A pressão por resultados rápidos, somada ao volume de processos seletivos e à dificuldade de avaliar aspectos subjetivos, torna o trabalho cada vez mais exigente.
Muitas contratações erradas acontecem porque o foco está apenas nas competências técnicas, deixando de lado fatores como propósito, visão de mundo e motivações pessoais. É nesse ponto que os valores brilham. Quando ignorados, esses elementos podem gerar desengajamento, conflitos com a liderança e até pedidos de demissão precoces.
A boa notícia é que há maneiras de integrar a análise de valores ao processo seletivo, tornando-o mais estratégico e humano. E uma das abordagens mais consistentes para isso é a Teoria dos Valores, de Eduard Spranger.
Quem foi Eduard Spranger e o que diz sua teoria
Eduard Spranger foi um psicólogo, filósofo e educador alemão que desenvolveu uma teoria inovadora sobre os valores humanos, apresentada pela primeira vez em sua obra “Tipos de Homens” (1921). Para Spranger, os seres humanos são guiados por diferentes sistemas de valores, que influenciam suas decisões, motivações e preferências.
Em seus estudos, ele identificou seis tipos de valores:
- Teórico: valoriza o conhecimento, a verdade e a racionalidade. Busca compreender o mundo de forma lógica e objetiva.
- Econômico: prioriza a utilidade prática, os recursos e os ganhos. É voltado para resultados e retorno sobre investimento.
- Estético: busca harmonia, beleza e equilíbrio. Tem sensibilidade para o ambiente e o bem-estar.
- Social: valoriza o altruísmo, o cuidado com o outro e os relacionamentos. É movido pela empatia e pelo desejo de ajudar.
- Político: busca poder, influência e liderança. Gosta de tomar decisões e assumir o controle.
- Religioso: valoriza a espiritualidade, a fé ou um senso mais elevado de propósito e conexão com algo maior.
Cada pessoa manifesta esses valores em diferentes graus, sendo possível identificar quais são predominantes em seu comportamento. E é justamente essa combinação de valores que indica se o profissional terá aderência à cultura da empresa e à função que irá exercer.
Por que avaliar valores no processo seletivo?
Ao considerar os valores como critério de análise no recrutamento e seleção, o recrutador amplia sua capacidade de prever o comportamento do candidato no dia a dia da organização. Mais do que entender o que ele sabe fazer, é possível compreender por que ele faz o que faz e se esse “porquê” está alinhado ao da empresa.
Benefícios práticos da análise de valores:
- Redução do turnover: pessoas com valores alinhados à empresa tendem a permanecer por mais tempo, pois se identificam com o propósito e a cultura organizacional.
- Melhora na integração: candidatos com valores compatíveis adaptam-se mais facilmente ao ambiente de trabalho e à equipe.
- Engajamento genuíno: profissionais que sentem que seus valores são respeitados e compartilhados se tornam mais motivados e produtivos.
- Decisões mais éticas: entender os valores predominantes também ajuda a prever como o candidato reagirá em situações de dilema moral ou conflito de interesses.
Sinais de desalinhamento de valores
Alguns sinais de alerta que podem indicar desalinhamento entre os valores do candidato e os da empresa incluem:
- Baixo entusiasmo com a missão e os objetivos do negócio.
- Inflexibilidade diante de mudanças de rota ou prioridades.
- Dificuldade de relacionamento com líderes ou colegas com visões diferentes.
- Respostas genéricas ou evasivas quando questionado sobre propósito e motivação.
A percepção desses sinais durante a entrevista, aliada à aplicação de instrumentos confiáveis de análise de perfil, pode evitar erros de contratação que custam caro à organização.

Como aplicar a teoria de Spranger no recrutamento
Você pode estar se perguntando: como traduzir essa teoria em algo concreto e aplicável ao dia a dia do recrutamento?
Felizmente, hoje existem ferramentas desenvolvidas especialmente para isso. Uma delas é o CIS Assessment, que avalia não apenas o perfil comportamental baseado na teoria DISC, mas também os valores pessoais com base na tipologia de Spranger.
Essa análise fornece um relatório claro sobre quais são os valores predominantes do candidato, oferecendo subsídios para entrevistas mais focadas e decisões mais assertivas.
Além disso, é possível incorporar a análise de valores nos seguintes pontos do processo:
1. Definição do perfil da vaga
- Quais valores são mais relevantes para a função? Por exemplo, um cargo de liderança pode exigir alto valor político; uma posição em uma ONG, maior valor social.
- A cultura da empresa privilegia agilidade, inovação ou estabilidade? Isso também precisa ser refletido nos valores buscados.
2. Elaboração de perguntas para entrevista
- Quais decisões profissionais você tomou que mais te deram orgulho? (revela motivações internas).
- Qual foi a situação mais desafiadora da sua carreira e como você lidou com ela? (indica como os valores operam em momentos de tensão).
- O que é sucesso para você? (traz pistas sobre o que a pessoa valoriza de verdade).
O papel estratégico do recrutador na análise de valores
Mais do que preencher vagas, o recrutador moderno é um verdadeiro estrategista de talentos. Seu papel é encontrar profissionais que somem ao negócio, não apenas em termos técnicos, mas também humanos. E para isso, é essencial ir além do currículo.
Compreender os valores que guiam cada indivíduo é uma vantagem competitiva poderosa. Empresas que adotam essa abordagem no recrutamento tendem a construir equipes mais coesas, colaborativas e orientadas por propósito.
Além disso, ao demonstrar interesse genuíno pelos valores do candidato, o recrutador contribui para uma experiência mais humana e respeitosa, algo cada vez mais valorizado no mercado de trabalho atual.
Conectando valores à cultura da empresa
A cultura de uma empresa não é um slogan na parede. Ela se manifesta nos comportamentos diários, nas decisões estratégicas e, sobretudo, nos valores que são compartilhados entre seus membros.
Por isso, integrar os valores no processo seletivo é também uma forma de proteger e fortalecer a cultura organizacional. Quando o time é formado por pessoas que compartilham dos mesmos princípios, o clima interno melhora, os conflitos diminuem e os resultados se potencializam.
Conclusão
Em um mercado cada vez mais orientado por propósito, não basta contratar quem tem as melhores competências técnicas. É preciso encontrar quem compartilha da visão e dos valores da empresa, e isso exige sensibilidade, método e instrumentos adequados.
A teoria de Eduard Spranger oferece uma base sólida para compreender o que realmente motiva os profissionais. Incorporar essa perspectiva ao recrutamento e seleção permite decisões mais conscientes e alinhadas ao que a empresa realmente precisa.
Se você é recrutador e deseja aumentar sua assertividade, reduzir o turnover e elevar o nível de engajamento dos talentos contratados, comece a olhar com mais atenção para os valores. Para isso, você pode contar com a ajuda do CIS Assessment e dos nossos especialistas para tirar qualquer dúvida referente ao nosso sistema.